domingo, 29 de julho de 2018

O RATO E O CAÇADOR




Um conto popular de Moçambique.

Antigamente havia um caçador que usava armadilhas, abrindo covas no chão. Ele tinha uma mulher que era cega e fizera com ela três filhos. Um dia, quando visitava as suas armadilhas, encontrou-se com um leão:
— Bom dia, senhor! Que fazes por aqui no meu território? (perguntou o leão)
— Ando a ver se as minhas armadilhas apanharam alguma coisa, respondeu o homem.
— Tu tens de pagar um tributo, pois esta região pertence-me. O primeiro animal que apanhares é teu e o segundo meu e assim sucessivamente. O homem concordou e convidou o leão a visitar as armadilhas, uma das quais tinha uma presa uma gazela. Conforme o combinado, o animal ficou para o dono das armadilhas.

Passado algum tempo, o caçador foi visitar os seus familiares e não voltou no mesmo dia. A mulher, necessitando de carne, resolveu ir ver se alguma das armadilhas tinha presa. Ao tentar encontrar as armadilhas, caiu numa delas com a criança que trazia ao colo. O leão que estava à espreita entre os arbustos, viu que a presa era uma pessoa e ficou à espera que o caçador viesse para este lhe entregar o animal, conforme o contrato.

No dia seguinte, o homem chegou a sua casa e não encontrou nem a mulher nem o filho mais novo. Resolveu, então, seguir as pegadas que a sua mulher tinha deixado, que o guiaram até a zona das armadilhas. Quando aí chegou, viu que a presa do dia era a sua mulher e o filho. O leão, lá de longe, exclamou ao ver o homem a aproximar-se:
— Bom dia amigo! Hoje é a minha vez! A armadilha apanhou dois animais ao mesmo tempo. Já tenho os dentes afiados para os comer!
— Amigo leão, conversemos sentados. A presa é a minha mulher e o meu filho. 

— Não quero saber de nada. Hoje a caçada é minha, como rei da selva e conforme o combinado, protestou o leão. De súbito, apareceu o rato.
— Bom dia titios! O que se passa? — disse o pequeno animal.
— Este homem está a recusar-se a pagar o seu tributo em carne, segundo o combinado.
— Titio, se concordaram assim, porque não cumpres? Pode ser a tua mulher ou o teu filho, mas deves entregá-los. Deixa isso e vai-te embora, disse o rato ao homem. Muito contrariado, o caçador retirou-se do local da conversa, ficando o rato, a mulher, o filho e o leão.
— Ouve, tio leão, nós já convencemos o homem a dar-te as presas. Agora deves-me explicar como é que a mulher foi apanhada. Temos que experimentar como é que esta mulher caiu na armadilha (e levou o leão para perto de outra armadilha).

Ao fazer a experiência, o leão caiu na armadilha. Então, o rato salvou a mulher e o filho, mandando-os para casa.

A mulher, vendo-se salva de perigo, convidou o rato a ir viver para a sua casa, comendo tudo o que ela e a sua família comiam.
Foi a partir daqui que o rato passou a viver em casa do homem, roendo tudo quanto existe...

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