quarta-feira, 18 de julho de 2018

Besouro - o filme



O resgate da arte da capoeira misturada as tradições religiosas de matriz africana. O resgate de uma negritude esquecida.

Assisti ao filme Besouro com o objetivo de encontrar uma mídia que apresente uma imagem positiva de nós negros. Meu intuito era encontrar representações onde negros e negras assumem o protagonismo, o papel heroico e tornam-se inspirações para nossas almas. A escolha se baseia na condição de que representatividade importa.

O filme retrata a história de Manoel Henrique Pereira, conhecido como Besouro Mangangá, que no início da década de 1920 luta contra a opressão que negro, do candomblé e da capoeira.

O primeiro ponto que me chamou a atenção foi como a escravidão perpetuou após a assinatura da Lei Aurea. Naquele tempo, muitas comunidades só foram comunicadas semanas ou meses depois sobre a abolição. Entretanto, muitos ex-escravizados continuaram ligados aos antigos senhorios, conforme relata Rios e Mattos.

Nesse cenário de abuso e opressão surge Besouro, um lutador de capoeira discípulo de mestre Alípio, que insurge contra um fazendeiro do Recôncavo Baiano, tornando-se um exemplo de luta pela verdadeira liberdade.

Banhado de misticismo, o filme aborda a relação homem-natureza-religiosiade pela via do candomblé. Apesar de ser muito emocionante as representações dos orixás, acrescenta ao filme uma morosidade e um excesso de narrativa. Eu acredito que poderia ser mais sutil, menos documentarista.

A abordagem sobre o candomblé é importante para desmistificar o ódio e a ignorância sofrida pelos adeptos do candomblé. Muitos de nós negros, atualmente nascidos dentro de religiões judaico-cristãs, não sabem que sua ascendência, bisavós e tataravós se orgulhavam e cultuavam outras divindades e que foram obrigados a abandonar seus rituais por força da colonização.

Ponto forte retratado pelo filme é a perseguição aos praticantes de capoeira. Em 1890, a prática se tornou ilegal. Era proibido “…fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza conhecido pela denominação capoeiragem, andar em carreiras, com armas ou instrumentos.” A lei previa pena de 2 a 6 meses de prisão, podendo chegar a deportação no caso do capoeira ser estrangeiro.

Besouro resgata a identidade do negro capoeirista, do negro candomblecista pós-escravidão. Resgata o quanto nós negros lutamos para construir um sujeito detentor de direitos e dignidade. O filme tira da tumba um herói pouco conhecido do público em geral.

Referências bibliográficas

- Rios, Ana Maria & Mattos, Hebe Maria. O pós-abolição como problema histórico: balanços e perspectivas

- Raymundo, José. Besouro Mangangá - zumbidos de resistência. (http://nzinga.org.br/pt-br/biblioteca).

- Mielke, Ana Claudia. Negros e mídia: invisibilidades. https://diplomatique.org.br/negros-e-midia-invisibilidades/

- Lei de Proibibição da Capoeira - Código Penal da República dos Estados Unidos do Brasil (Decreto número 847, de 11 de outubro de 1890) - https://capoeiraocec.webnode.com.br/a-arte-capoeira/lei%20de%20proibi%C3%A7%C3%A3o%20da%20capoeira/

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