Assis
com “Esaú e Jacó” e Hatoum com “Dois Irmãos” tratam de um
assunto muito caro a todos nós: a família.
Não
é uma família qualquer, se bem que poderia ser a sua, ou minha. São
famílias com relações tão complexas que poderiam ser reais,
repletas de mazelas, segredos guardados a sete chaves.
Nas
duas histórias, os conflitos são potencializados e desenvolvem-se
em torno de irmãos gêmeos. Esqueça toda aquela história dos
documentários e reportagens que evocam o misticismo que cerca esse
tipo de nascimento. Esses irmãos se odeiam.
No
romance de Machado de Assis, Pedro e Paulo, os protagonistas brigaram
desde o ventre. Eles competem entre si pelo amor da mãe, de uma
mulher, pelo sucesso. Em “Dois Irmãos” não é diferente, Yaqub
e Omar não nasceram para serem amigos.
O
que me encantou nas duas histórias foi a relação das famílias com
os nascituros gêmeos. Há um esforço sobrenatural para que eles se
deem bem. Que se gostem. Ao mesmo tempo eles estão inseridos em um
cruel jogo de comparações infindáveis.
A
mística sobre gêmeos é um tanto interessante. As pessoas esperam
que eles sejam parecidos em tudo. Não foi uma ou duas vezes que me
perguntaram se eu era parecido com minha irmã. Gentilmente, eu
respondia, “ela é mulher, eu homem”. Mesmo assim, a busca por
semelhança continuava. Personalidade, gostos, capacidade
intelectual. A necessidade que as pessoas possuem em fundir dois
seres que são únicos fazem com que eles se separem muitas vezes.
Outro
ponto comum aos dois romances é o trabalho que os entes da família,
principalmente os pais, têm em passar para a sociedade que suas
famílias não tenham máculas. O conflito entre os irmãos gêmeos é
algo que precisa ser ocultado.
Tanto
Assis quanto Hatoum usam revoluções como pano de fundo. O primeiro,
constrói a sua história no período da proclamação da república.
O segundo, no golpe militar de 1964. É uma oportunidade para
escrutar como esses autores sentiam e visualizavam os conturbados
períodos políticos de suas épocas.
Convido-os
a dedicar a essas obras um tempinho. É uma leitura prazerosa e de
muito simbolismo. É
um retrato histórico de dois tempos que fazem parte da nossa
história. São convites para repensarmos e modernizamos nossas
relações familiares.
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