terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Não sou meu irmão


Assis com “Esaú e Jacó” e Hatoum com “Dois Irmãos” tratam de um assunto muito caro a todos nós: a família.
Não é uma família qualquer, se bem que poderia ser a sua, ou minha. São famílias com relações tão complexas que poderiam ser reais, repletas de mazelas, segredos guardados a sete chaves.
Nas duas histórias, os conflitos são potencializados e desenvolvem-se em torno de irmãos gêmeos. Esqueça toda aquela história dos documentários e reportagens que evocam o misticismo que cerca esse tipo de nascimento. Esses irmãos se odeiam.
No romance de Machado de Assis, Pedro e Paulo, os protagonistas brigaram desde o ventre. Eles competem entre si pelo amor da mãe, de uma mulher, pelo sucesso. Em “Dois Irmãos” não é diferente, Yaqub e Omar não nasceram para serem amigos.
O que me encantou nas duas histórias foi a relação das famílias com os nascituros gêmeos. Há um esforço sobrenatural para que eles se deem bem. Que se gostem. Ao mesmo tempo eles estão inseridos em um cruel jogo de comparações infindáveis.
A mística sobre gêmeos é um tanto interessante. As pessoas esperam que eles sejam parecidos em tudo. Não foi uma ou duas vezes que me perguntaram se eu era parecido com minha irmã. Gentilmente, eu respondia, “ela é mulher, eu homem”. Mesmo assim, a busca por semelhança continuava. Personalidade, gostos, capacidade intelectual. A necessidade que as pessoas possuem em fundir dois seres que são únicos fazem com que eles se separem muitas vezes.
Outro ponto comum aos dois romances é o trabalho que os entes da família, principalmente os pais, têm em passar para a sociedade que suas famílias não tenham máculas. O conflito entre os irmãos gêmeos é algo que precisa ser ocultado.
Tanto Assis quanto Hatoum usam revoluções como pano de fundo. O primeiro, constrói a sua história no período da proclamação da república. O segundo, no golpe militar de 1964. É uma oportunidade para escrutar como esses autores sentiam e visualizavam os conturbados períodos políticos de suas épocas.
Convido-os a dedicar a essas obras um tempinho. É uma leitura prazerosa e de muito simbolismo. É um retrato histórico de dois tempos que fazem parte da nossa história. São convites para repensarmos e modernizamos nossas relações familiares.




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