sábado, 21 de outubro de 2017

O Visionário Major Quaresma


O presidente Floriano Peixoto responde ao Major Quaresma qual foi a sua opinião sobre o memorando lhe entregue: “Quaresma, você é um visionário”. Essa frase poderia resumir o quanto nós, brasileiras e brasileiros, somos paralíticos patrióticos em um país que nunca decola. Editado pela primeira vez em 1915. o “Triste fim de Policarpo Quaresma” faz uma crítica tenaze sincera da sociedade e do brasileiro.

Major Quaresma é um funcionário público na jovem república de Floriano Peixoto. Trabalha em uma repartição que, como muitas outras, serve de cabide de empregos para uma classe média. Entretanto, Quaresma não fica atoa. Ele aproveita seu ócio na repartição e em casa para estudar as maravilhas de nossa terra.

Os estudos da personagem o leva a concluir que nós brasileiros constituímos um povo sem identidade, que patina em se tornar uma nova Europa. Para ele, precisávamos nos singularizar, cortar as heranças com nosso ex-colonizador. Precisávamos de algo que fosse apenas nosso. Concretiza todos esses pensamentos um desejo: tornar o Tupi a língua oficial da nação.

Apesar de parecer absurda, o antropólogo Darci Ribeiro relembra em “O povo brasileiro” que o tupi foi a língua materna dos neobrasileiros, até ser substituído pelo português. Sem ela, a comunicação com os povos originários seria difícil.

O desejo de oficializar o Tupi como língua oficial do Brasil seria o ponto de partida para nos vermos como uma grande nação. Entretanto, os pares de Quaresma o enxovalham. Incompreendido, o major sucumbe a loucura e acaba internado em um manicômio. Todo patriota seria um louco?

Quaresma deixa o sanatório e muda-se para o campo. Seu patriotismo volta-se para a terra, para a agricultura. Lima Barreto critica a ilusão que temos sobre o trato com a terra. Em se plantando, tudo se dá!

Apesar de um clima favorável, nossa personagem descobre que a terra se exauri, possui pragas que precisam ser controladas. A maior de todas as pragas são os altos impostos que o governo cobra dos posseiros. Deixar a terra ao sabor do mato e das ervas daninhas é menos oneroso que produzir, pois no final as doninhas do governo levam todo o lucro do agricultor.

Por fim, nosso personagem ingressa no exército para defender a república de Floriano Peixoto. Em uma oportunidade, entrega ao presidente um memorando com sugestões que poderiam fazer nosso país rico e próspero. A resposta dada a Quaresmo é: “você é um visionário”. Ou seja, o país mais justo, próspero, com um povo patriótico é uma fantasia, uma utopia que jamais será alcançada.

Após 129 anos da Proclamação da República, mantemos o mesmo comportamento. Não nos dedicamos na plenitude em desenvolver nosso país. A ânsia de lucrar e explorar ao máximo essa terra mantém o povo na ignorância, sem saúde, escolas e hospitais públicos descentes. Continuamos colônias de exploração do mundo, vendendo nossas riquezas para o capital externo. Continuamos fornecedores de mão de obra.

Nossa classe média sonha e recita seu desejo de deixar o país para ter melhores oportunidades na Europa e nos Estados Unidos, lugares esses, considerados civilizados.

Quaresma é um visionário, sou obrigado a concordar. Oxalá pudéssemos todos ser como ele, que nos orgulhássemos de sermos brasileiros. Os ideais de Quaresma, para mim, é o rumo para sermos brasileiros orgulhosos de nossa cultura. “Triste Fim de Policarpo Quarema” é um livro para quem um dia brasileiro deseja ser.

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