Às
vezes, me pergunto: “Quando a morte de negros findará? Quantos
mais precisaremos sacrificar nessa sociedade que moi nossos ossos e
carne? Quantos mais: um, dez, milhões?”
Investi
um
pouco de
tempo para ler algumas crônicas de Cidinha da Silva, contidas no
livro #Parem
de nos Matar.
Em seguida, resolvo assistir “Mandela: Um longo caminho”. Volto
para Cindinha. Me
derreto em sangue e indignação.
De
acordo com as informações da Atlas, a cada 100 pessoas assassinadas
no Brasil, 71 são negras. Mortes, mortes e mais mortes de negros por
armas de fogo, disparadas por policiais brancos. Pelo Estado branco.
O
estado que luta pela hegemonia, que não aceita a dividir um vintém
com os mais pobres; a riqueza que essa humilde e desprovida camada
gera. Essa parcela que soma mais de cinquenta por cento da população
brasileira, formada por negros e pardos.
Na
história da abolição da escravatura no Brasil, encontramos menções
a como a Inglaterra pressionou Portugal para acabar com o tráfico
negreiro. Entretanto, bons colonizadores que são, os ingleses
protagonizaram um dos maiores apartheid
do mundo. Dois pesos e duas medidas? Mataram negros e negras na
África do Sul de acordo com a conveniência mercantilista e
política.
A
matança de negros não é algo do passado. Por isso, tanto falamos.
Ela é perene. A carne mais barata do mercado está valendo pouco ou
nada. É mandada todos os dias para os moedores de carne humana que
são nossas prisões.
Quarta-feira,
12 de julho de 2017, Ricardo do Nascimento, negro, catador de
material reciclável foi assassinado por um policial de São Paulo.
Foram dois tiros no peito, à queima-roupa.
Legítima
defesa? Ricardo estava com um pedaço de pau nas mãos. Armamento
letal? O policial não poderia ter atirado na perna? O policial não
poderia ter o dominado com um cassetete? O policial não o poderia
ter apenas imobilizado? Não! Precisa matar.
Alguns
falarão que a polícia não é preparada. Discordo. Ela é preparada
sim. Preparada para matar. Qual policial não sabe que no tronco
estão
os principais órgãos vitais de um ser humano? Coração, rins,
estômago, pulmões.
Sabem
tanto que até adulteraram a cena do crime e tomaram os celulares
daqueles transeuntes que filmaram a ação. Sabem matar, forjar e
esconder as provas. Apenas não sabem proteger o cidadão.
A
corregedoria agiu rápido. O assassino foi afastado das ruas para
trabalhos administrativos. Corporação e Estado mantém o ciclo
triste
da impunidade.
Afastar o policial das ruas não devolverá a vida de Ricardo. Não
impedirá que outros negros e negras sejam assassinados.
Nossa
sociedade precisa mudar. Nossa cultura de matança acabar. A polícia
se humanizar. O Estado precisa desconstruir o racismo estrutural para
que esse quadro tão aterrador acabe.
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