quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Nunca para

Às vezes, me pergunto: “Quando a morte de negros findará? Quantos mais precisaremos sacrificar nessa sociedade que moi nossos ossos e carne? Quantos mais: um, dez, milhões?”
Investi um pouco de tempo para ler algumas crônicas de Cidinha da Silva, contidas no livro #Parem de nos Matar. Em seguida, resolvo assistir “Mandela: Um longo caminho”. Volto para Cindinha. Me derreto em sangue e indignação.
De acordo com as informações da Atlas, a cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. Mortes, mortes e mais mortes de negros por armas de fogo, disparadas por policiais brancos. Pelo Estado branco.
O estado que luta pela hegemonia, que não aceita a dividir um vintém com os mais pobres; a riqueza que essa humilde e desprovida camada gera. Essa parcela que soma mais de cinquenta por cento da população brasileira, formada por negros e pardos.
Na história da abolição da escravatura no Brasil, encontramos menções a como a Inglaterra pressionou Portugal para acabar com o tráfico negreiro. Entretanto, bons colonizadores que são, os ingleses protagonizaram um dos maiores apartheid do mundo. Dois pesos e duas medidas? Mataram negros e negras na África do Sul de acordo com a conveniência mercantilista e política.
A matança de negros não é algo do passado. Por isso, tanto falamos. Ela é perene. A carne mais barata do mercado está valendo pouco ou nada. É mandada todos os dias para os moedores de carne humana que são nossas prisões.
Quarta-feira, 12 de julho de 2017, Ricardo do Nascimento, negro, catador de material reciclável foi assassinado por um policial de São Paulo. Foram dois tiros no peito, à queima-roupa.
Legítima defesa? Ricardo estava com um pedaço de pau nas mãos. Armamento letal? O policial não poderia ter atirado na perna? O policial não poderia ter o dominado com um cassetete? O policial não o poderia ter apenas imobilizado? Não! Precisa matar.
Alguns falarão que a polícia não é preparada. Discordo. Ela é preparada sim. Preparada para matar. Qual policial não sabe que no tronco estão os principais órgãos vitais de um ser humano? Coração, rins, estômago, pulmões.
Sabem tanto que até adulteraram a cena do crime e tomaram os celulares daqueles transeuntes que filmaram a ação. Sabem matar, forjar e esconder as provas. Apenas não sabem proteger o cidadão.
A corregedoria agiu rápido. O assassino foi afastado das ruas para trabalhos administrativos. Corporação e Estado mantém o ciclo triste da impunidade. Afastar o policial das ruas não devolverá a vida de Ricardo. Não impedirá que outros negros e negras sejam assassinados.
Nossa sociedade precisa mudar. Nossa cultura de matança acabar. A polícia se humanizar. O Estado precisa desconstruir o racismo estrutural para que esse quadro tão aterrador acabe.

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