sábado, 13 de maio de 2017

SENZALA


Segundo uma edição do dicionário Aurélio que possuo, muito antiga por sinal, Senzala é um substantivo feminino que significa “casa ou alojamento de escravos; casa imunda que serve de morada para vadios e desordeiros; maloca.”

Em pleno treze de maio, data que foi promulgada a Lei Aurea, penso o que leva alguém a batizar um restaurante com esse nome. Será o analfabetismo histórico ou o racismo?
Antes que atirem a primeira pedra, não me refiro somente ao estabelecimento em São Paulo, que virou notícia nas últimas semanas. Existem outros, aqui na cidade, onde o horizonte não é mais tão belo, há dois bares com o nome.

O que faço nesse texto é convidá-los a pensar sobre a luta contra o racismo no Brasil. Realmente, o vencemos? Temos uma sociedade desprovidada de preconceito racial, que garante oportunidades iguais para todos?

Analisamos a primeira parte do significado dada pelo dicionário: “casa ou alojamento de escravos”. Eram pocilgas onde negros escravizados passavam a noite, após longo dia de trabalho e chibatadas. Após retornarem do campo, ali, na senzala, tinham que se acomodar. Quando o último entrava, as portas eram trancadas. Ao invés de casa, deveria ser chamada de prisão.

O segundo conceito, “casa... para vadios e desordeiros” criminaliza aqueles que vivem na senzala. Ou seja, criminaliza o negro, pois era ele que lá estava aprisionado.

Após a Lei Aurea, promulgada em 13 de maio de 1888, o negro brasileiro foi impedido pelo Estado de ter acesso à terra. A mão de obra imigrante passa a ser bem recebida. O Estado brasileiro tinha a política de criar uma nova Europa branca, como relata Darcy Ribeiro, em O Povo Brasileiro. Essa política empurrou a população negra para a miséria e para o desemprego.

Poucos anos depois, durante a ditadura do Estado Novo (1937 – 1945), o governo varguista institui a lei da vadiagem. “Entregar-se alguém habitualmente a ociosidade, sendo válido para o trabalho, sem ter renda que lhe assegure meios bastantes de subsistência...” funcionava como pretexto para que a polícia encarcerasse, sem motivo algum um negro inocente, pobre que estivesse desempregado. Que o mandasse para a prisão, para a senzala que é o lugar dos vadios.

Após cortar acesso ao emprego, o Estado brasileiro criminaliza o negro, como o conceito utilizado no dicionário também o faz. Situações que contribuem para aumentar o preconceito e o racismo.

Enfim, não cabe usar a palavra “senzala” figurativamente, apenas literalmente. Ela carrega o asco do racismo e da escravidão. Ao exibi-la em uma placa, a mensagem passada é que ali, naquele estabelecimento, se fortalece o racismo; principalmente, quando brancos estão sentados à mesa sendo servidos por negros.


Nenhum comentário:

Postar um comentário