Ganhador do Oscar de melhor filme, “Moonlight – Sob
a luz do Luar” tocou em um ponto: relações humanas.
Quando absorvi a ideia de Litlle, uma criança negra
que sofre booling na escola, filho de uma mãe solteira viciada em crack pensei
nas milhares de crianças brasileiras que estão em situação parecida em nossa
sociedade. Em milhares de milhares de crianças negras no mundo em situação de
vulnerabilidade.
Vejo as crianças como pequenos indivíduos que
precisam de um ente estruturador. Dia-a-dia, esses pequeninos seres humanos se
deparam com sentimentos e situações novas que não entendem e precisam de ajuda
para o fazê-lo. Em minha experiência de vida, esse ente seria a responsabilidade
dos pais.
Quando falo pais, não me refiro somente aos
progenitores biológicos, mas a àqueles que assumem o papel de educar uma
criança. No filme, quando a mãe de Chiron é apresenta como uma mulher solteira,
me perguntei onde estaria o pai de Little. Essa criança não foi concebida em
proveta, mas o pai não exercia a paternagem.
Paternagem é mais que simplesmente registrar um
criança. É se responsabilizar pela educação do filho e isso Little não teve. À
medida que cresce não consegue vencer as amarras da timidez provocada pelo
machismo e pelo racismo.
Olho a minha volta e vejo contemporâneos
construindo suas famílias. Cada um ao seu estilo. Penso aguçado por Moonlight;
com qual base ética e valores estamos educando nossos filhos?
Megulhados na cultura capitalista, nos rendemos ao
consumismo exacerbado. Criamos padrões de vida incompatíveis com os nossos
rendimentos e para sustentá-los trabalhamos mais que as 44 horas semanais.
O tempo dispensado para o ganho do capital falta
para o desenvolvimento da amorosidade com as crianças. Eles crescem sozinhos,
orientados por babás que não possuem a responsabilidade de educá-los.
Quando a grana da babá falta, entra em cena a avó,
o tablet, o samartphone, a televisão, a escola particular com judô e balé.
Nossa ausência é compensada com bens materiais. E nossos filhos não podem
reclamar da falta de amor, certo. Afinal, eles possuem tudo o que não tivemos. Damos
quase tudo que o dinheiro pode comprar para eles.
Além da falta de amor, eles não possuem contato com
a frustração. Raramente escutam um sonoro “não”. São príncipes e princesas
mimadas por toda a família e sem limites.
Certo dia, chega um telefonema. Aquele garoto está
preso. Foi pego roubando ou traficando. Dias depois, seu corpo é encontrado
boiando em uma lagoa, vítima de um jogo qualquer de autofragelação via redes
sociais ou um acerto de contas.
Nos perguntamos, entre copiosos choros engasgados
em soluços onde erramos? Ele tinha tudo? Tudo, menos atenção. Não conhecemos
mais nossos filhos porque não damos conta de nos relacionar com eles.
Assim, estamos banhados pela luz fria da lua que é
incapaz de aquecer nossos corações. Ela apenas turva os nossos olhos, nossas relações
com aqueles que dizemos mais amar. E nenhum bem material é capaz de melhorar
esse deserto gelado se não nos atritarmos.
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