domingo, 7 de maio de 2017

Moonlight – Sob a luz do meu sentir


Ganhador do Oscar de melhor filme, “Moonlight – Sob a luz do Luar” tocou em um ponto: relações humanas.

Quando absorvi a ideia de Litlle, uma criança negra que sofre booling na escola, filho de uma mãe solteira viciada em crack pensei nas milhares de crianças brasileiras que estão em situação parecida em nossa sociedade. Em milhares de milhares de crianças negras no mundo em situação de vulnerabilidade.

Vejo as crianças como pequenos indivíduos que precisam de um ente estruturador. Dia-a-dia, esses pequeninos seres humanos se deparam com sentimentos e situações novas que não entendem e precisam de ajuda para o fazê-lo. Em minha experiência de vida, esse ente seria a responsabilidade dos pais.

Quando falo pais, não me refiro somente aos progenitores biológicos, mas a àqueles que assumem o papel de educar uma criança. No filme, quando a mãe de Chiron é apresenta como uma mulher solteira, me perguntei onde estaria o pai de Little. Essa criança não foi concebida em proveta, mas o pai não exercia a paternagem.

Paternagem é mais que simplesmente registrar um criança. É se responsabilizar pela educação do filho e isso Little não teve. À medida que cresce não consegue vencer as amarras da timidez provocada pelo machismo e pelo racismo.

Olho a minha volta e vejo contemporâneos construindo suas famílias. Cada um ao seu estilo. Penso aguçado por Moonlight; com qual base ética e valores estamos educando nossos filhos?

Megulhados na cultura capitalista, nos rendemos ao consumismo exacerbado. Criamos padrões de vida incompatíveis com os nossos rendimentos e para sustentá-los trabalhamos mais que as 44 horas semanais.

O tempo dispensado para o ganho do capital falta para o desenvolvimento da amorosidade com as crianças. Eles crescem sozinhos, orientados por babás que não possuem a responsabilidade de educá-los.  

Quando a grana da babá falta, entra em cena a avó, o tablet, o samartphone, a televisão, a escola particular com judô e balé. Nossa ausência é compensada com bens materiais. E nossos filhos não podem reclamar da falta de amor, certo. Afinal, eles possuem tudo o que não tivemos. Damos quase tudo que o dinheiro pode comprar para eles.

Além da falta de amor, eles não possuem contato com a frustração. Raramente escutam um sonoro “não”. São príncipes e princesas mimadas por toda a família e sem limites.

Certo dia, chega um telefonema. Aquele garoto está preso. Foi pego roubando ou traficando. Dias depois, seu corpo é encontrado boiando em uma lagoa, vítima de um jogo qualquer de autofragelação via redes sociais ou um acerto de contas.

Nos perguntamos, entre copiosos choros engasgados em soluços onde erramos? Ele tinha tudo? Tudo, menos atenção. Não conhecemos mais nossos filhos porque não damos conta de nos relacionar com eles.


Assim, estamos banhados pela luz fria da lua que é incapaz de aquecer nossos corações. Ela apenas turva os nossos olhos, nossas relações com aqueles que dizemos mais amar. E nenhum bem material é capaz de melhorar esse deserto gelado se não nos atritarmos.

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