Certa vez escutei que alguma coisa por mil vezes
dita, tornava-se verdade. Entretanto, ao me deparar com o dramaturgo e escritor
italiano Luigi Pirandello, esse conceito se desconstruiu. Basta dizermos uma
única vez, para nós mesmos.
Deixando meus escrúpulos de lado, tentei buscar
algo que pudesse desmentir o dito popular e o escritor. Perguntei a uma amiga
se ela conhecia algo que todos concordavam que era verdade. Algo que poderíamos
chamar de “realidade absoluta”. Eis que ela me confronta dizendo: “O céu é
azul”. Que nada! Uma pessoa sofredora de daltonismo, possivelmente, não enxerga
o céu como azul.
Voltei meu olhar para as discussões futebolísticas.
Um jogador recebe a bola em posição duvidosa e balança as redes (Goollllll).
Comemora, mas seu regozijo torna-se frustração quando percebe, na lateral do campo,
o assistente de árbitro com a bandeira erguida. Inúmeras verdades, eu vejo
aqui. A do goleador que reclama, a do bandeira, do juiz e dos milhares de
torcedores que gritaram de felicidade ou choraram momentaneamente. Não adianta
falar que a coisa se resolve depois do replay, tira teima e slow motion. Não
resolve! Todo mundo passa a semana dando a sua versão para o acontecimento.
Continuei na busca. Aquilo que fosse comum a todos,
que não fosse refutável.
Ao relacionar alguns anos de terapia com a obra de Pirandello,
revisito algo um tanto essencial. Como a relação é de dois, e cada membro da
relação possui uma história de vida, experiências e emoções peculiares e, uma
construção particular do “eu”, é impossível chegar a uma única verdade. Temos
duas. A nossa e a do outro. Duas verdades, ou melhor, duas percepções da realidade,
pois cada pessoa na relação interpreta o mesmo fato com as ferramentas culturais
e emocionais que lhes são cabíveis. E essas verdades são únicas.
Nesse momento, penso no significado de “convencer”,
ou seja, o ato de persuadir o outro da nossa verdade. O quanto que gastamos e nos
desgastamos em horas de debates que visam nada mais que imbuir a outrem uma
percepção que é totalmente particular.
Ao pensar nessa lógica, podemos ficar mais à
vontade em debates e discussões. Podemos aliviar as tensões das relações de
todas as naturezas. Desenvolver um olhar tolerante e simpático ao
ressignificarmos que “verdades absolutas” não existem. Talvez, pontos de vista
diferentes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário