sábado, 15 de julho de 2017

Carvão



Quando as portas do teatro se fecham e a cortina se abre, emergimos em outro mundo.

É na França, em plena segunda grande guerra, que encontramos os personagens, Jim e Hans, enclausurados em um mina de carvão. Entretanto, não são apenas os limites da mina que cerceiam suas liberdades, mas a psique em conflito de cada um.

Os laços de sangue, segredos, amores, o frio enregelante, situações e sentimentos que marcam a pele dos personagens como a fuligem e a sujeira do carvão.

Com personagens potentes e um cenário belíssimo, a história se desenrola baseada na obra de Jean Genet. Com questionamentos atuais, Carvão marca a cena teatral belo-horizontina apresentada pela Cia Drática de Teatro.

Talvez, sem ter essa pretensão, a peça estabelece um diálogo com nossa contemporaneidade. Os personagens estão massacrados pelo dono da mina, sem nenhum direito a humanidade. É isso ou a morte pelo frio invernal. Algo que a reforma trabalhista brasileira vem destruir.

Coincidentemente, eu e dois amigos conversávamos sobre como é, hoje, nossa relação com o trabalho. O quão doentia e claustrofóbica ela é. Sem escapatórias fáceis.

Como em Carvão, nas minas francesas, nas carvoarias da caatinga afora, meu encantamento pela peça me leva a desejar fugir dessa mórbida realidade.

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