Quando assisti Rosa Choque, espetáculo dirigido por
Cida Falabella e estrelado por Cris Moreira e Guilherme Théo, algo tinha que
mudar em mim.
A peça propõe ao público uma reflexão sobre a
identidade e a representatividade que o gênero possui em nossa sociedade. Suas
passagens me levam até Simone de Beauvoir que diz: ”...ninguém nasce mulher,
torna-se mulher.” Mostra como nossas identidades são forjadas, impressas com o
ferro quente, cultural, em nossos psicológicos. Somos socialmente moldados.
No discurso de gênero, percebo o quanto somos
direcionados a nos tornarmos machistas e misóginos. Destinamos as roupas azuis
para os meninos e as rosas para as meninas ao nascerem. Desde cedo, as garotas aprendem
a cuidar de um bebê em suas brincadeiras com bonecas. Já os garotos, afastados
dessas possibilidades, são incentivados a lutarem, serem fortes e nunca
chorarem.
Certa vez, quando criança, observava minhas irmãs
brincarem. Cada uma tinha um papel: mãe, empregada, filha. Entretanto,
faltava-lhes um integrante: o pai. Fui convocado a participar naquele papel e perguntei
o que deveria fazer. Quem personificava “A mãe” respondeu: “Ora, você vai
trabalhar e conseguir dinheiro”.
Um simples divertimento de faz-de-conta reflete
todo o pensamento de uma sociedade. A mulher é o “sexo frágil”, dependente
emocionalmente e financeiramente do homem, o provedor. Será que não poderia ser
o contrário? O homem cuidaria das tarefas domésticas, enquanto a mulher obtinha
o sustento?
Inverter as funções não é tarefa fácil. É combatida
com uma enxurrada de frases feitas e tradições arraigadas durante séculos: “Isso
é coisa de menina”; “Instinto materno”; “Mulheres tem tino para trabalhos
domésticos”; “Homem não faz nada direito”.
Percebi-me nessa armadilha social algumas vezes. Assim
que passei a morar sozinho, escutava que, como um homem, seria incapaz de cuidar
de uma casa. As palavras aludiam que manter meu apartamento limpo, organizado,
cozinhar e passar roupas fossem tarefas incompatíveis com o meu falo.
Foi preciso desconstruir muitos conceitos. Não me
tornei mais, nem menos homem ou mulher por lavar o meu banheiro. Pelo
contrario, acredito que me tornei mais humano, mais aberto a dividir as noites
de insônia forçada quando o meu filho nascer. A entender que não são as cores,
azul ou rosa que determinam minha sexualidade.
Como
anunciei no inicio desse texto, algo em mim mudou. Meu coração agora é rosa
choque.
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