domingo, 23 de outubro de 2016

Dois heróis



Ana Maria Gonçalves invoca no prologo de “Um Defeito de Cor”a palavra: serendipidade, descoberta ocasional, o que descobrimos por acaso. É de “Outras Rosas” à “O Topo da Montanha” que passo por uma nova descoberta, assim, sem querer.

“Eu não penso que deveria ter que me levantar”, texto de Anderson Feliciano apresentado na 5ª Janela Dramatúrgica, foi o começo de um encontro, a mim nunca anunciado. Uma frase que poderia ser dita com um grito, mas que no meio-silêncio, é aterradora. Ela trouxe-me o feito de Rosa Parks, a mulher negra que em 1° de dezembro de 1955, cidade de Montgomery (Alabama), recusa-se a ceder o lugar em que estava sentada em um ônibus para um homem branco. O ato foi um desafio ao sistema de apartheid vivido no tão idolatrado EUA.

Deixei o teatro com uma constatação. Estava muito longe de conhecer as personalidades negras que lutaram por nós. Ignorante eu estava e continuei. Não fui atrás de descobrir mais sobre essa mulher.

Dias depois, encontro-me com “O Topo da Montanha”. Lázaro e Tais apresentam as últimas horas de vida de Martin Luther King. O pastor que lutou no mesmo país de Rosa Parks, pelos mesmos direitos de igualdade; confesso, tinha apenas uma vaga ideia de quem o era.

Não poderia-me permitir continuar na ignorância. Cheguei a minha casa e procurei ler, conhecer através de meus próprios olhos quem eram essa gente. Rosa e Martin, Parks e King.

Feliz serendipiade. Rosa Parks e Martin Luther King eram contemporâneos. Foi a ato daquela mulher em 1955 que levou o reverendo a organizar o boicote contra as companhias de ônibus durante 385 dias. Duas pessoas ligadas por uma causa, em um mesmo tempo. Dois ícones, dois heróis.


A pesquisa está longe de ter fim. Muitos outros, ainda, precisam ser me apresentados. Para que preencham meu coração, tão ávido por identidade. Entretanto, com as janelas escancaradas e transformadoras do teatro, sinto que os encontros, sempre recheados de incômodos, serão enriquecedores e nutritivos para minha alma e corpo negro.

5 comentários:

  1. Linda palavra... serendipiade!!! Tanto em sentido quanto em sonoridade. Num olhar apressado, sem o acaso, caso que me perdi em um serena piedade!!! Meu caro, continue sua busca e não se esqueça de compartilhar suas descobertas!! Precisamos e muito de incômodos assim!!!

    ResponderExcluir
  2. Esse termo também é muito usado no meio dos empreendedores. E não por acaso, porque eles estão sempre à procura de novas oportunidades de negócios, desenvolvimentos tecnológicos, etc. É super importante manter a mente atenta e aberta para as coisas que a vida nos oferece.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Permita-me completar. A mente é o coração para que transmita doçura nas ações.

      Excluir