domingo, 12 de março de 2017

Luxo só, violência e machismo

Duas matérias me chamaram a atenção ao ler o Estado de Minas de terça-feira, 7 de março de 2017. A primeira, manchete de capa: “A cada hora 15 mulheres são agredidas em Minas”. A segunda: “Luxúria e polêmica”.

Segundo a manchete, mulheres pardas e negras somam 61,1 % das vítimas de violência doméstica. Em sua maioria, são os parceiros, maridos e namorados os autores das agressões.

Os números são subestimados, pois muitas mulheres não denunciam os seus agressores. Empaticamente, tento me colocar no lugar dessas vítimas de nossa sociedade machista e imagino o quanto é penoso entrar em uma delegacia e fazer uma queixa contra a pessoa que, a princípio deveria ser um parceiro de vida.

As pressões que essa mulher precisa conciliar para ter a coragem de fazer a denúncia. São períodos longos de agressões psicológicas e físicas. A família do agressor, em sua grande maioria, tenta colocar o famoso panos-quentes, afinal, roupa suja se lava em casa.

Conforme informada pela delegada Danúbia Quadros, que chefia a Divisão Especializada no Atendimento à Mulher, ao Idoso e à Pessoa com Deficiência de BH, essa violência é causada por homens que consideram suas parceiras como posse, objetos pessoais.

Em outro caderno, o mesmo jornal destaca a polêmica causada pelo novo clipe de Flávio Renegado e o grupo Batekoo: “Luxúria, Só”. Com as frases “Acabou o amor, agora é só luxuria” e “Aí, tá gostozim”, o rapper cerca-se de mulheres negras que o colocam no papel de macho alpha. Elas estão lá para dar prazer a ele. O contrário, também não deveria ter sido explorado? Homens dispostos a dar prazer as mulheres, afinal a luxúria faz parte da natureza humana.

O clipe, machista, contribui para a objetificação e hipersexualização da mulher negra. Aquela que apenas serve para transar no chão, no quarto ou em cima da pia. Aquela que não precisa de amor. Tal situação, o machismo, é um dos fatores que arrasta essas mulheres para uma condição de violência doméstica. Afinal, como objetos, seu papel seria servir ao homem. Quando não servem mais, são jogadas em um celibato compulsório ou mortas.

Às vésperas do Dia Internacional de Luta da Mulher questiono a capacidade de nós, homens, nos posicionarmos de forma tão superficial ao problema e repetirmos atos machistas. Obviamente, que esses trabalho de desconstrução do machismo e da hipersexualização da mulher exige esforço, mas precisa ser feito.

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